Não tem como escapar do lugar-comum e dizer que o Brasil é um país singular, quando se faz uma viagem por seus grotões é isso evidente. Na medida que nos afastamos dos grandes centros, depois das cidades do interior paulista e mineiro, passando pelos estados de Goias e finalmente Tocantins, as estradas vão piorando até se tornarem caminhos. E as cidades, apenas vilarejos com pouquíssimos recursos: uma escola, a praça central, o posto de gasolina. Próximo aos parques nacionais, quase nem isso. Apenas quilômetros e quilômetros de mata, vazia dos dois lados da estrada. Minha impressão é que o governo central por falta de opção transforma em parques nacionais os desertos de gente.
Ao nos aproximarmos do Jalapão, vislumbramos uma cidade portal (Ponte Nova do Tocantins) com algum movimento turístico dos jipeiros, com restaurantes e empresas de turismo, ainda que pequenos. Nada. A cidadezinha tem poucas ruas de asfalto, bares e mercadinhos mirrados, e na praça central a pousada da Da. Lázara. Um sol escaldante afasta as pessoas da rua, reforçando a impressão de deserto.
Com fome buscamos onde comer, para encontrar um bar numa garagem servindo o inevitável quilão. Os sinais da singularidade do país começam a se mostrar nas pessoas simples que almoçam por ali. Trabalhadores ou apenas viventes se servem na mesa de alumínio, de onde passamos longe. A salada de maionese, que evitamos até olhar, é devorada sem medo pelos locais. Concentramo-nos no churrasco, ainda que também precário.
Uma vez sem fome saímos pelas estradas de terra que rasgam a vastidão desse interior. Cada atração está a 40 ou 50 quilometros, e leva horas pra chegar. Mas vale cada quilometro, paisagens que nenhuma foto é capaz de descrever. Só mesmo vendo. Cruzamos inúmeros jipes e picapes, sofisticadas e equipadas com o melhor disponível: 4×4 turbo diesel, pneus barreiros e duzentos cavalos de potencia. O barro da estacao chuvosa assusta, quase os vinte centímetros de altura das picapes. Como sempre, nos achamos desbravadores: mas só até cruzar uma moto cinquentinha caindo aos pedaços, com três pessoas, cruzando o mesmo barreiro que as camionetes cortam orgulhosas – ok, agora nem tão orgulhosas.
O escasso povo local desconsidera – ou desconhece – os avanços tecnológicos disponíveis para esses ambientes off-road, confiando apenas no que têm à mão. Bicicletas, motos velhas, dao conta do recado tao bem quanto as camionetes. E la vao eles pelos mesmos caminhos, nao a turismo, mas levando suas vidas normais. O Brasil é mesmo singular.
